09/11/2007

O Método Indutivo

O Método indutivo é caracterizado pela presença da indução. Indução é uma operação mental que permite a generalização de uma idéia a partir da observação de fatos particulares. Não poderíamos fazer conhecimento científico do fato particular, pois o conhecimento científico pretende ser universal. Então, o cientista estuda uma certa amostra ou parcela bem distribuída de um fato, para adquirir possibilidades reais de generalização para toda a população daquele fato.
Por exemplo, Joseph Gay-Lussac(1778-1850), quando formulou a lei dos gases, baseou-se em observações particulares, experimentando diferentes gases: Hidrogênio, oxigênio, gás de ácido fluobórico e a amônia e viu que esses gases se combinavam numa razão numérica simples e conclui que todos os gases se combinam dessa forma. Em condições normais de temperatura e de pressão, o volume resultante da combinação de dois gases mantém uma relação numérica simples com os volumes de cada um deles (Lussac)
Um exemplo simples de indução muito usado nos textos sobre esse assunto é o que segue:
O cachorro é mortal;
O gato é mortal;
O Homem é mortal.
Ora, cachorro, gato e homem são animais.
Logo, todo animal é mortal.
Mas, a lógica indutiva científica não é completa, deixa sempre grandes lacunas na maioria dos objetos estudados. Analisando o exemplo dos gases de Lussac. Se, em determinado momento, se descobrir que dois determinados gases não se combinam dessa forma, este conhecimento terá de ser modificado. Então, o conhecimento decorrente da indução está sempre na iminência de superação.
O método indutivo é o mais usado para os estudos das ciências da natureza. Essas ciências produzem seus conhecimentos através de investigações experimentais. Após alguns estudos em uma amostra representativa da classe dos fatos, faz-se a generalização.
Muitas das nossas ações no mundo moderno estão embasadas nos conhecimentos desenvolvidos pelo método experimental indutivista. Por exemplo, quando viajamos de avião, temos certeza de que não cairá se forem mantidas as condições especificadas no estudo. Quando tomamos uma anestesia, temos certeza de que vamos acordar após a cirurgia, se forem mantidas as condições do estudo.
O princípio que dá valor e legitimidade à indução científica, independente do tempo e do espaço, é o princípio das leis. A natureza é regida por leis. As causas atuam de maneira uniforme. As mesmas causas produzem os mesmos efeitos. Toda relação de causalidade é constante. Por exemplo, verifica-se uma relação causal entre calor e dilatação. Logo, é constante esta relação: sempre e em toda parte, o calor dilata os corpos.
A indução, portanto, é a propriedade lógica que possibilita a generalização de uma proposição a partir de proposições particulares.

18/09/2007

Metodologia Científica - Acepções

A metodologia científica surgiu a partir da necessidade de se compreender melhor a problemática do método, da pesquisa e, naturalmente, do conhecimento.
Como disciplina, foi criada na universidade com diversos objetivos, dependendo do nível e do interesse de cada curso: graduação, especialização, mestrado ou doutorado .
Atualmente, é possível divisar pelo menos cinco acepções do uso da disciplina :
Epistemologia: estuda a forma como o homem se relaciona com o mundo para construir o conhecimento; Envolve aspectos teóricos sobre a ciência, suas diferenças, estruturas e estatutos e estuda também a relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento.
Pesquisa: orienta o indivíduo a produzir o conhecimento;
Estudo dos Métodos: reflete sobre os diversos métodos existentes de produção do conhecimento.
Técnica de Estudos: apresenta-se como um conjunto de instrumentos que ajudam na aprendizagem (técnicas de leitura, compreensão de textos, resumos, esquemas, fichamentos, relatórios etc);
Ética do Conhecimento: Discute a objetividade e a neutralidade da ciência, a questão da verdade, a relação ciência e poder, o uso e aplicação do conhecimento, a manipulação das pessoas pelo conhecimento e etc.

Ética: uma brevíssima reflexão.

A Ética é uma área de estudo da Filosofia. Portanto, é uma disciplina que exige conhecimento de algumas áreas da filosofia como Ontologia, Antopologia Filosófica e outras.
No nosso cotidiano, a palavra ética ganhou estatuto de coisa séria. É entendida como algo sistematizador das ações tidas como corretas. Varias entidades criaram seu código de atividades profissionais e o intitularam de código de ética profissional. Sendo assim, temos o Código de Ética profissional do Administrador, o Código de Ética Profissional do Contabilista e tantos outros.
A expressão “falta de ética” é empregada para todo e qualquer deslize da conduta humana. Muitos falam que, na política, não se tem ética.
Então, a palavra ética é conhecida de todo mundo mas sem a densidade de significado ou reflexão que a área de estudo requer.
A Ética reflete sobre o que seria o comportamento ideal para os homens.
Uma possível definição de ética é classificá-la como área do conhecimento que reflete as ações do homem à luz da máxima concepção possível do que seria perfeito.
Segundo o filósofo Immanuel Kant, a Ética se impõe a todos. Todos devem fazer o bem e evitar o mal. E isso é um imperativo categórico. É imperativo porque é um dever moral. É categórico por que atinge a todos, sem exceção.
"Age como se a máxima da tua ação se devesse tornar, pela tua vontade, em lei universal da natureza”
“Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”.
“Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio”
Para Kant, não deveríamos fazer aos outros o que gostaríamos que fizessem a nós, mas o que gostariamos que todos fizessem para todos.

07/09/2007

O papel do sujeito no processo do conhecimento

Para a epistemologia , o conhecimento é a relação entre sujeito e objeto. Sujeito é aquele que tem a capacidade de conhecer .
Sem o conhecimento não existe sujeito. O sujeito só se constitui sujeito quando ele conhece.
O Sujeito, aquele que conhece, é constituído pela natureza imanente semelhante a todo e qualquer ser vivo, mas, também, distingue-se de todos os outros pela sua capacidade de transcender o real, dando-lhe sentido e formando uma consciência que lhe é própria, única , individual e singular.
A produção do conhecimento fica condicionada a algumas determinações do sujeito: afetividade, cognição, organismo biológico, relações sociais. etc.
A construção da individualidade do sujeito se dá por uma infinidade de combinações. Combinam-se o que o sujeito já dispõe incorporado ao seu ser , sua afetividade, sua cognição, e cada nova experiência de sua vida.
A afetividade, por exemplo, é a primeira forma de percepção do sujeito. A criança, para muitos pesquisadores, já no útero materno, possui uma capacidade grande de perceber a afetividade da mãe e a dos que o cercam.
O recém-nascido, a cada relação com a mãe, assimila novas experiências afetivas e as une as outras experiências anteriormente existentes. Essa capacidade de juntar ás experiências novas ás já existentes, acontece a todo instante.
Mas, o sentido das experiências não é o mesmo para todas as pessoas, e nem é o mesmo para a mesma pessoa em momentos diferentes. A relevância das experiências para cada sujeito são do domínio da sua individualidade. Gêmeos uni vitelinos, criados pela mesma família, apresentam, traços afetivos diametralmente opostos.
A nível cognitivo, também não é diferente. A cada instante , através dos nossos cinco órgãos dos sentidos, chegam ao cérebro uma infinidade de informações. Além disso, há também, as informações do passado, as perspectivas do futuro etc. Cada estímulo assimilado é incorporado a esquemas anteriores de compreensão, modificando-os, tornando esses esquemas novos a cada instante.
Mas, o sujeito só processa aquele estímulo que faz sentido para ele. Por exemplo, um motorista , que esteja acompanhado e conversando com uma pessoa que lhe seja interessante, dirige o carro durante um longo percurso, sem ser capaz de recordar dos estímulos que se lhe apresentaram visualmente, na estrada.
A forma como a afetividade e a cognição se desenvolvem enfatiza a individualidade do sujeito que tem o poder de dirigir o seu aparelho perceptivo para aquilo que lhe interessa.
Também, o sujeito é formado por um organismo biológico. Na fecundação, o espermatozóide tem uma configuração genética que o identifica como indivíduo. Aparentemente somos biologicamente iguais, mas, na verdade, somos todos diferentes, somos únicos, individuais.
Além disso, o organismo biológico uma das determinações do sujeito é um poderoso e eficiente sistema com capacidade de conhecer o real, mas o biológico tem limites que dimensionam o conhecimento. Os nossos órgãos do sentido possuem limites. Se o estímulo estiver fora dos seus limiares, não será percebido. Há coisas que nossa visão não alcança, precisamos de requisitos tecnológicos que nos ajudem. Galileu, aprimorou uma luneta belga, para ajudá-lo a ver coisas que a olho nu não poderia ver nos céus.
O Piloto de um avião precisa do radar para auxiliá-lo no pouso. O médico precisa dos aparelhos de ultra-som, de raios-X , e tantos outros. Nossa memória, também, tem uma capacidade limitada de armazenamento de informações, precisamos de um computador. Se quisermos ver seres minúsculos que estão bem perto de nós precisamos de um microscópio. Todos esses equipamentos, ao mesmo tempo em que demonstram a capacidade criadora do sujeito, também denunciam os limites dos seus sentidos.
Além das determinações afetivas, cognitivas e biológicas, o sujeito possui também determinações sociais. O ser humano depende das relações sociais. Ele sente a influencia das crenças, dos grupos a que se liga, da língua que fala, do trabalho que desempenha, da economia que possui, da classe a que pertence. Mas o sujeito não assimila o social como um ser passivo, contemplativo, ele filtra o social, aquilo que lhe interessa, e as razões para a escolha são de seu inteiro arbítrio.
O indivíduo é sempre veículo da transformação e o conhecimento fica condicionado a todas estas determinações do sujeito.
A partir de tudo isso, podemos afirmar que : O objeto é a fonte do conhecimento; O sujeito transforma os estímulos recebidos do objeto dando-lhes novos sentidos; O conhecimento, é portanto, ao mesmo tempo, objetivo e subjetivo.
GUEDES, E.M. Curso de Metodologia Científica. 2a. ed. Maceió: HD Livros, 2000

04/09/2007

O Objeto do conhecimento


Para a epistemologia , o conhecimento é a relação entre sujeito e objeto. Sujeito é aquele que tem a capacidade de conhecer . Sem o conhecimento não existe sujeito.
O sujeito só se constitui sujeito quando ele conhece. Se alguém nunca entrou em contato com uma determinada realidade, essa pessoa não é sujeito.
Da mesma forma, a realidade só se torna objeto quando entra em relação com o sujeito. Do contrário, tal realidade é apenas um ser. O ser é tudo que existe, não importa a forma de existir. O pensamento, a letra, o número, o amor, a saudade, a paixão, a doença, um contrato, uma planta, um animal, o homem, são seres.
No momento em que o ser se relaciona com o sujeito, torna-se objeto. O ser quando se torna objeto adquire determinadas participações do sujeito que o transforma. Por causa dessas mudanças que o ser sofre quando se torna objeto,  alguns autores resolveram, para fins didáticos,  classificar o objeto em quatro tipos:

01.Objeto real: compreende o ser na sua inesgotável riqueza, na sua totalidade. É o que ele é realmente;

02.Objeto percebido: se permite ser o que o sujeito pretende que ele seja. O sujeito percebe a realidade por aqueles aspectos que para ele são importantes.
Tomemos como exemplo de objeto, uma bola. A bola, para um atleta, é um instrumento de trabalho; para um comerciante, é uma mercadoria; para um artesão é um artigo a ser consertado. etc.
Um objeto pode ser percebido de diferentes maneiras. E todo objeto se permite essas percepções que autorizam o sujeito a dizer do ser o que ele percebe.
O Objeto percebido não diz do objeto as suas características mais gerais e objetivas, mas expressa a forma como o sujeito se relaciona com ele.

03.Objeto Ideal : aquele que não existe naturalmente. Foi criado a partir da relação do homem com o mundo.  Facilita o entendimento do mundo. Por exemplo, as letras, o calendário, as medidas de comprimento, os números, o próprio dinheiro.
O número, por exemplo, não existe como os outros objetos do mundo real. Nunca se viu, nem vai se ver o número 1 em algum lugar. O que agente vê é uma forma que na nossa cabeça está convencionada a reconhecer como número 1.
Sem a mediação dos objetos ideais, o desenvolvimento das idéias, e consequentemente do pensamento estariam limitados.

04. Objeto Construído: A relação do sujeito com o objeto é sempre uma relação subjetiva e objetiva ao mesmo tempo. Mas, não podemos imaginar que , pelo fato do sujeito ter um papel ativo no processo do conhecimento, o objeto venha a ser qualquer coisa que o sujeito queira que ele seja.
Por esse motivo, para evitar excesso de subjetivismos e se produzir o conhecimento com determinados parâmetros de aceitação, a partir do século XVII começou a ser sistematizado o conhecimento científico moderno, cuja função é a construção do objeto através de métodos e procedimentos rigorosos.
O objeto construído é o objeto próprio da Ciência. É elaborado com uma consistência lógica e metodológica que permite maior confiabilidade no conhecimento obtido. É tratado com a máxima objetividade possível. E a participação do sujeito é monitorada pelos procedimentos metodológicos.
Por exemplo, uma mãe olha para o filho, percebe que ele está doente, mas não enxerga a causa do padecimento dele. Ela leva o filho a médico , e ele de posse de um instrumento teórico confiável ( objeto construído) , diz o que a criança tem e o que necessita ser feito.
Os fenômenos não se apresentam na sua totalidade, para a simples percepção. Faz-se necessário o domínio de um prisma através do qual se possa compreendê-los. Esse prisma é a teoria científica.
Aos cientistas cabe, de posse dos objetos ideais e dos amplificadores perceptivos, diminuir as influências das percepções imediatas do objeto(objeto percebido) para elaborar teorias mais confiáveis e consistentes acerca do real (objeto construído), visando um relacionamento mais adequado com o objeto real.

BIBLIOGRAFIA

GUEDES, Enildo Marinho. Curso de Metodologia Científica. HD Livros




26/08/2007

Galileu e Kepler: exemplos de método científico

Nossa pretensão hoje é falar um pouco sobre o surgimento do Método Científico. Vamos falar das leis descobertas por Kepler e Galileu. No espaço de um blog não dá para discuti-las num só artigo, temos intenção de discutir cada uma, mais tarde.
Para embasarmos o assunto, estivemos pesquisando duas obras do filósofo da Ciência Bertrand Russel: A Perspectiva Científica e História da Filosofia Ocidental. Esperamos que o recorte que fizemos do assunto possa ser útil e compreensível a todos.
O Método científico é na sua essência bastante simples. Consiste na observação de fatos que permitam ao observador descobrir as leis gerais que regem a natureza.
Os períodos de observação e de descoberta de uma lei são essenciais e cada um deles é suscetível de refinamento.
Mas em essência , o primeiro homem que afirmou que o fogo queimava estava empregando o método científico, especialmente se tivesse chegado a essa conclusão depois de se ter queimado várias vezes.
No entanto, ele não procedeu como a técnica científica exige. Ele não fez escolha cuidadosa dos fatos relevantes, nem dispunha dos diversos meios de descobrir leis. Ele apenas generalizou.
O homem que afirma que os corpos abandonados sem apoio no espaço caem, faz uma simples generalização e pode ser refutado pelos balões, pelas borboletas, pelos aviões.
Por outro lado, o homem que conhece a teoria da queda dos corpos de Galileu, sabe a razão porque certos corpos abandonados ao espaço não caem e sabe por que outros corpos caem.
O Método científico tal como o conhecemos hoje surgiu com Galileu ( 1564-1642) e em menor escala com Kepler.(1571-1630)
Kepler e Galileu provaram que os planetas, inclusive a terra, giram ao redor do sol. Isto já havia sido afirmado por Copérnico e por alguns gregos, mas nenhum havia conseguido provar essa afirmação.
A grande realização de Kepler foi a descoberta das suas três leis do movimento planetário:
1ª lei: Os planetas descrevem órbitas elípticas, das quais o sol ocupa um foco.
2ª lei: A linha que une um planeta com o Sol percorre espaços iguais em tempos iguais:
3ª lei: O quadrado do período de revolução de um planeta é proporcional ao cubo de sua distancia média do sol.
Galileu é talvez o maior dos fundadores da ciência moderna. Foi o primeiro a descobrir a lei da aceleração. Foi o primeiro a estabelecer a lei da queda dos corpos. E adotou ardorosamente o sistema heliocêntrico. Manteve correspondência com Kepler e aceitou suas descobertas. Fez para si um telescópio e descobriu coisas importantes. Verificou que a Via Láctea consiste de uma multidão de estrelas separadas. Observou as fases de Vênus que Copérnico sabia que estavam implicadas em sua teoria, mas que a olho nu não podiam ser percebidas. Descobriu o satélite de Júpiter. Verificou que os satélites obedeciam as leis de Kepler. Kepler e Galileu possuíam o método cientifico. Eles observaram os fatos e a partir de suas observações chegaram à leis gerais sobre estes fatos específicos da natureza

22/08/2007

O que é uma teoria Científica?

Abordaremos aqui algumas concepções de pessoas importantes sobre o que pode ser considerado um conhecimento científico. O tema é abrangente e complexo. A minha pretensão é expor uma visão rápida sobre o assunto, focando nas idéias de Platão, Carnap e Popper.
Platão chamou de ciência, em grego episteme, o conhecimento verdadeiro. Para Platão, o conhecimento científico é certo e universal. O critério de cientificidade de Platão é a verdade.
Hoje, essa tese é insustentável. Além de o tema verdade ser assunto complexo, muitas teorias científicas, tidas como verdadeiras ao longo dos anos, foram substituídas por outras. Por exemplo, a teoria da geração espontânea, a teoria heliocêntrica e outras tantas. Deste modo, demarcar o conhecimento científico do não científico, tendo em vista o critério de verdade, não funciona.
Já o critério demarcatório entre o que é ciência e o que não é ciência, proposto pelo filósofo alemão Carnap é o critério de significação. Assim, o conhecimento científico circunscreve-se a aquilo que faz sentido. O conhecimento que não faz sentido faz parte da metafísica segundo Carnap.
Karl Popper critica Carnap e diz que a metafísica é um conhecimento pleno de significado. Popper ressalta a importância dos mitos e da metafísica nas teorias científicas.
Um mito falso não quer dizer que seja ausente de significado.
Há um mito astrológico que diz que a felicidade de uma pessoa depende da posição dos astros no momento do seu nascimento.
Essa idéia surgiu a partir da lei da interação gravitacional de Newton, que é uma lei universal e que vale para quaisquer corpos massivos do universo. Então, o mito da felicidade a partir da posição dos astros no nascimento, em que pese seja falso, é pleno de significado.
Popper propôs como critério para identificar o conhecimento científico, o critério de refutabilidade ou falseabilidade. Para Popper, a característica principal para que uma teoria seja considerada científica é que ela seja passível de refutação.
Por exemplo, se eu digo que Sábado próximo talvez chova ou talvez não chova em S. Paulo. Essa sentença não poderá ser considerada científica , pois é impossível de ser refutada. Pois, se chover ou se não chover , a sentença continua válida.
Mas se eu digo que sábado certamente choverá em S.Paulo. Essa sentença poderá ser considerada científica, pois é passível de refutação. Pode ser testada, basta eu esperar que sábado chegue , e durante 24 horas daquele dia controlar toda a área de S.Paulo para ver se choverá ou não.
Muitas vezes ouvimos pessoas falarem que tal fato foi cientificamente provado de maneira irrefutável. Quem fala assim, não está trabalhando com o critério de cientificidade de Popper. Pois Popper diz que para ser científico precisa ser refutável.
Pois bem, estabelecer critério de cientificidade é tarefa ingrata. Nenhum critério é universalmente aceito: nem o de Platão, nem o de Carnap, nem o de Popper , nem o de ninguém. Todos suscitam dificuldades. O conhecimento é algo maravilhoso. Mas, a certeza, a não ser para situações muito limitadas, é talvez, uma quimera.

21/08/2007

O papel do sujeito no processo do conhecimento: Duas teorias.

Nosso objetivo aqui é transmitir de forma bem simples, adequada a um blog, duas concepções importantes a respeito do papel do sujeito no processo do conhecimento.
Conhecimento sempre pressupõe a relação sujeito - objeto, o que quer dizer que a compreensão de mundo está sempre vinculada a uma relação de um sujeito que observa o mundo e interage com ele. Abordaremos aqui as teorias de Platão e a de Francis Bacon. São duas posturas que encerram diferenças radicais, mas que guardam certa identidade pelo fato de que colocam o sujeito numa posição passiva frente ao processo do conhecimento.
Francis Bacon entendia que deveríamos nos purificar nos exorcizando dos ídolos das antecipações mentais a fim de que pudéssemos ficar aptos a fazer interpretações da natureza e contemplá-la como ela é. Ou seja, se quisermos entender como funciona a natureza, deveremos nos libertar de todos os conhecimentos que foram passados para nós através da família, da religião, dos costumes e das autoridades em determinado assunto, para que possamos, a partir de nossa observação nua e crua , entendermos a realidade tal como ela é. Segundo Bacon, agente precisa observar a natureza, vê-la, ouvi-la, senti-la, tudo com a mente purificada, pois a natureza por si só fala e se revela inteira para a nossa mente.
Já Platão, no livro Mênon, expõe a teoria da Reminiscência. Ele se utiliza de um diálogo, feito de perguntas e repostas, que Sócrates desenvolve com um escravo. No diálogo, Sócrates envida esforços para que o escravo de Mênon apresente solução correta de um problema geométrico. Através de suas indagações, o escravo é levado a solução do problema: Ele conclui que o lado do quadrado de área dupla é a diagonal do quadrado de área simples. Segundo Sócrates, a solução já se encontrava na alma imortal do escravo, mesmo antes dele ter nascido.
O método utilizado por Sócrates chama-se maiêutica. A arte de fazer dar a luz, como se fosse uma parteira. A maiêutica consiste em um processo de purificação que nos levaria a enxergar o conhecimento verdadeiro e contemplar a solução exata e verdadeira daquilo que já sabíamos , antes mesmo de ter nascido.
A teoria de Platão pressupõe um sujeito passivo, mas com uma mente plena de conhecimento que precisa ser trazido à tona através da maiêutica.
Já a teoria de Bacon, atribui a mente uma condição nua de mera captadora de conhecimento verdadeiro, desde que previamente purificada. Essa teoria pressupõe um sujeito, além de passivo, também previamente vazio de conhecimento: um sujeito passivo de mente vazia.
Teorias mais aceitas atualmente oferecem um espaço maior ao sujeito. Um espaço que é delimitado pela realidade objetiva, mas que coloca o sujeito como agente cognoscente ativo e transformador.

06/08/2007

A Teoria dos Quanta.

A Teoria dos Quanta é a teoria da física que se refere aos átomos e aos eletrons tomados isoladamente. Está atravessando uma fase de rápido desenvolvimento, mas é provável que ainda esteja bem distante de sua forma definitiva.
Essa teoria é bastante perturbadora para os preconceitos que governam a Física desde os tempos de Newton, pois abalou a fé que se depositava no princípio da causalidade.
A Ciência da Natureza, desde os antigos gregos, afirmava que a natureza segue leis naturais, racionais e necessárias. Sempre negou que houvesse o acaso ou contingência no mundo natural. O acaso para eles seria um fato cuja causa ainda não se conhece ou é apenas uma ocorrência singular que não afeta as leis da natureza. Dado um fenômeno sempre será possível determinar sua causa necessária.(determinismo) Ou seja, podemos conhecer as causas de um fenômeno e os seus efeitos.
Na Física, por exemplo, o calor que é uma causa, dilata os corpos, que é um efeito. O fenômeno da dilatação dos corpos é regular, onde existe calor há dilatação dos corpos.
A teoria dos Quanta abala a fé que se depositava no caráter universal do princípio da causalidade. Considera-se hoje, que talvez os átomos tenham certo grau de livre arbítrio de tal modo que o seu comportamento, não está inteiramente sujeito a leis.
Também, certas coisas que supunhamos como definitivamente estabelecidas, pelo menos em teoria, deixaram, em grande parte de sê-lo.
O determinismo da física clássica baseava-se no fato de que as coisas poderiam ser conhecidas simultaneamente a partir de suas propriedades geométricas ( forma, figura, volume, etc) e de suas propriedades físicas ou dinâmicas.
Estudando-se o átomo de hidrogênio foi possível observar que a quantidade de matéria ou massa não é constante, transforma-se em energia e que esta energia não é constante e além disso, não se transforma em coisa alguma e desaparece.
Descobriu-se ainda, que ao examinar o átomo, dependendo da tecnologia usada e do equipamento, é possível ver-se um corpúsculo, ou ver-se uma onda. Não tem, portanto, forma constante.
E mais, Heisenberg, com seu princípio da indeterminação, descobriu que no nível atômico, conhecer o estado ou a situação atual de um fenômeno ou de um fato, não permite prever a sua situação ou estado seguinte, nem descobrir qual foi a sua situação ou estado anterior.
Isso vai de encontro às idéias tradicionais da física que consideravam como fundamentais as noções de posição e de velocidade: só é possível ver um eléctron quando ele emite luz, e ele só o faz quando salta. Para que saibamos onde ele está, é necessário fazer com que ele se mova.
Heisenberg chegou a conclusão que quando se consegue descobrir a posição não se consegue descobrir a velocidade e vice-versa: “ Uma partícula pode ter posição ou ter velocidade, mas não pode em nenhum sentido exato, ter ambas as coisas.” Há portanto incerteza e indeterminação no fenômeno.
A noção de lei natural, implicava alguém que tivesse feito as coisas do universo, que elas seriam ordenadas e possíveis de serem previstas. Poderíamos esperar dominar a natureza mediante o conhecimento de suas leis, isso transformava a ciência numa fonte de poder. Esta não é mais a opinião de alguns cientistas, segundo estes, o universo é muito mais imprevisível do que se imaginava. A fé na ciência parece estar um pouco mais abalada.
É importante observar que estas teorias da física que estivemos considerando talvez não tenham muita influência sobre as aplicações práticas da ciência. Como colocou Bertrand Russel, quando um geneticista desenvolve uma variedade de trigo que é imune às doenças que destroem outras variedades, a importância dessa descoberta é completamente independente do fato de um átomo ser uma miniatura do sistema solar, uma onda de probabilidade ou um retângulo infinito de números inteiros.
É curioso, portanto, que enquanto esse paradigma da física está minando inteiramente a estrutura da razão aplicada e apresentando-nos um mundo fantástico e até irreal, um mundo mais companheiro da religião, da arte e do amor do que de qualquer outro paradigma da física como por exemplo o mundo ordenado e sólido de Newton, a ciência aplicada está se tornando cada vez mais útil e mais capaz do que nunca de apresentar resultados importantíssimos para a vida humana.